As voltas que o <i>Avante!</i> dá
Em Moura, a distribuição do Avante! acompanha o reforço da organização do Partido. Na cidade e nas freguesias rurais há mais leitores e, à porta do Centro de Trabalho, todas as semanas é exposto um Avante! de parede. Fomos lá ver. Para contar.
Manuel Bravo começa cedo a distribuição do Avante! pela cidade de Moura. Todas as quintas-feiras de manhã vai na sua carrinha (ou bicicleta, lá mais para o Verão) à estação de camionagem do concelho buscar os jornais. À sua responsabilidade tem os Avantes destinados à cidade, mas é também ele que separa os que irão ser distribuídos nas freguesias rurais de Amareleja e Safara.
Desta vez a distribuição fez-se à sexta-feira, por causa da reportagem do Avante!, e o atraso foi notado. «Já estava a estranhar não ter vindo ontem», atirou uma mulher de trás de um balcão de uma sapataria no centro de Moura. O distribuidor justifica as razões do atraso enquanto se fazem as contas. «O camarada de Amareleja e Safara vem depois cá buscá-los», explica-nos Manuel Bravo.
Aos 65 anos, o responsável pela distribuição do Avante! no concelho de Moura mantém uma forma física invejável. Nos bairros da cidade e no centro é a pé que distribui todos os jornais – bem mais de 40. Pelas ruas estreitas e ondulantes de Moura, Manuel Bravo imprime um passo difícil de acompanhar. «São muitos exemplares para entregar», explica, como que a justificar-se.
Com a experiência de vinte anos a distribuir o Avante!, Manuel Bravo sabe de antemão quem vai ou não encontrar em casa. Quem não está fica com o jornal na caixa do correio. As contas serão feitas depois.
Alguns dos compradores estão em casa. «Esta camarada é reformada», conta Manuel Bravo, no instante antes de tocar à campainha. Uma porta abre-se e surge um rosto idoso, mas cheio de vitalidade. «Não vieste ontem, não estava preparada para pagar o jornal», afirmou, olhando com alguma curiosidade a companhia invulgar. «Não faz mal, acertamos tudo para a semana», respondeu Manuel Bravo, esclarecendo: «São do Avante!. Estão cá a fazer uma reportagem sobre o nosso trabalho aqui em Moura».
De mão em mão
Muitos dos compradores do Avante! recebem o jornal no local de trabalho. E é Manuel Bravo quem o leva. Como na barbearia central da cidade, onde duas crianças esperavam a sua vez para a tosquia. «Então por onde andaste tu ontem?», perguntou o barbeiro, pegando em dois jornais, que paga de imediato. O segundo será entregue a outro leitor, que o irá levantar mais tarde.
O cliente seguinte é um carpinteiro de uma oficina de restauro. Às primeiras pancadas na porta ninguém abre. Manuel Bravo já se prepara para dobrar cuidadosamente o jornal de modo a caber na caixa do correio. Mas a porta acaba por abrir-se e o carpinteiro recebeu em mão o seu jornal. A caminho do centro, mais um número fica num mini-mercado.
No pólo central da Biblioteca Municipal, Manuel Bravo deixa a uma funcionária o Avante! que deveria ser entregue a outro trabalhador, que se encontra em serviço exterior. Visivelmente habituada àquela presença semanal, a funcionária acede e garante que o jornal chegará ao destinatário. Na divisão sócio-cultural, ficam alguns jornais, colocados em cima das secretárias dos respectivos leitores.
O mesmo se passa nos serviços centrais da autarquia. Com o presidente da Câmara de férias, o seu Avante! fica à guarda da secretária. Vereadores comunistas e outros militantes daquele departamento recebem o seu. Saindo por uma porta lateral, ainda se entrega mais um ao guarda do Castelo.
À saída, com o mesmo passo rápido, Manuel Bravo conta que a distribuição continuará da parte da tarde, em zonas mais periféricas da cidade. É que nos últimos anos vendem-se muitos mais Avantes no concelho, o que obriga a voltas maiores. Depois de a CDU ter perdido a maioria na Câmara, no início dos anos 90, a organização do Partido ressentiu-se disso. «Agora está-se a recuperar.»
Antes de partir para o resto da sua jornada, Manuel Bravo, que já foi vereador da Câmara Municipal, confessa: «De todas as tarefas que já fiz no Partido, é desta que gosto mais.»
O valor da persistência
Vender dez Avantes numa freguesia do Baixo Alentejo até poderia não ser um muito bom cartão de visita nem motivo merecedor de reportagem. Mas se se disser que há menos de um ano não se vendia nem um, as coisas mudam de figura.
Em Safara, no concelho de Moura, a organização do Partido não reagiu bem à derrota eleitoral nas últimas autárquicas para a freguesia. Para Jorge Flores, membro da Comissão Concelhia de Moura e responsável pela organização de freguesia de Safara , «descurava-se há muito tempo a organização do Partido». «Ao perder-se as eleições, tudo se foi desagregando», afirmou.
A sua responsabilização pela organização de Safara seguiu-se à realização da Assembleia da Organização Concelhia de Moura, em Maio de 2007. Jorge Flores conta que a sua primeira preocupação foi falar com as pessoas, chamá-las ao trabalho do Partido. Depois, trazer gente nova, o que se foi alcançando. «E assim se foi reconstruindo o Partido.»
Actualmente, existe uma Comissão de Freguesia com seis elementos. No recente almoço concelhio de comemoração dos 87 anos do Partido, realizado em Safara, estiveram 80 pessoas, 30 das quais da freguesia. No Avante! especial sobre as alterações ao Código do Trabalho venderam-se mais trinta jornais do que habitualmente.
Mas há muito ainda por fazer, considera este mecânico de automóveis, regressado de Angola há 11 anos, onde esteve outros tantos como cooperante. Em sua opinião, o que já se conseguiu prova que «se formos persistentes e se formos ter com as pessoas podemos ter cada vez mais gente a trabalhar».
Actualmente, é ele quem distribuiu o Avante! em Safara, mas está a tentar captar mais gente para a tarefa. «Não é só por uma questão de fundos, o Avante! é fundamental para aumentar a influência do Partido».
Criatividade em páginas de metal
Todas as semanas, às quintas-feiras, à porta do Centro de Trabalho de Moura está o Avante! «de parede». Numa estrutura metálica pintada de vermelho, colam-se as principais notícias e artigos da edição da semana. Em letras gordas amarelas, no topo da estrutura, lê-se «AVANTE!».
Coladas, as páginas centrais e outras peças. Neste caso, uma notícia sobre os cinco anos da Guerra do Iraque e um artigo de fundo sobre pensões e reformas. «Sempre que há notícias sobre Moura ou sobre o Alentejo, colamos logo», destaca Jorge Feliciano, membro do Organismo da Cidade de Moura e um dos responsáveis pela iniciativa.
Todas as quintas-feiras de manhã, Manuel Bravo entrega um Avante! a Jorge Feliciano destinado ao jornal de parede. Juntamente com Andreia Egas, os dois jovens seleccionam as matérias mais importantes e lançam as mãos ao trabalho, com a ajuda de tesouras e cola. Depois é só pôr a secar e colocá-lo à porta do Centro de Trabalho. Frequentemente, há que retocar o painel metálico, de modo a manter uma aparência digna.
José Gonçalo Valente, do mesmo organismo, sublinha que o vandalismo contra o jornal de parede do Partido é quase nulo. O que, para Jorge Feliciano, tem a ver com a regularidade com que é feito. «Foi ganhando o respeito das pessoas», afirma. «Fala-se muito dele ali na praça», diz, com indisfarçável satisfação.
Para além de divulgar o Avante!, este jornal de parede «passa a ideia de um Partido activo, com dinâmica, o que é muito positivo», acrescentou José Gonçalo, também presidente da Assembleia Municipal. Jorge Feliciano destaca igualmente a importância de dinamizar o Centro de Trabalho, que se mantém mais tempo aberto e animado. «Os militantes voltam a sentir “gozo” pelo CT», valoriza.
Segundo Jorge Feliciano, em pouco mais de meia-hora faz-se um jornal de parede com uma grande importância, até para os camaradas de concelhos vizinhos, para que possam seguir o exemplo.
O Organismo da Cidade foi recriado na Assembleia da Organização Concelhia de Moura, realizada no ano passado. Composto por militantes com idades a rondar os trinta anos, tem assumido um importante papel na dinamização do Centro de Trabalho, e na concepção, colocação e distribuição de propaganda.
José Gonçalo realça que esta nova dinâmica do Partido no concelho não se desliga das orientações nacionais. «Temos hoje mais militantes, mais actividade e vendemos mais Avantes», remata.
Desta vez a distribuição fez-se à sexta-feira, por causa da reportagem do Avante!, e o atraso foi notado. «Já estava a estranhar não ter vindo ontem», atirou uma mulher de trás de um balcão de uma sapataria no centro de Moura. O distribuidor justifica as razões do atraso enquanto se fazem as contas. «O camarada de Amareleja e Safara vem depois cá buscá-los», explica-nos Manuel Bravo.
Aos 65 anos, o responsável pela distribuição do Avante! no concelho de Moura mantém uma forma física invejável. Nos bairros da cidade e no centro é a pé que distribui todos os jornais – bem mais de 40. Pelas ruas estreitas e ondulantes de Moura, Manuel Bravo imprime um passo difícil de acompanhar. «São muitos exemplares para entregar», explica, como que a justificar-se.
Com a experiência de vinte anos a distribuir o Avante!, Manuel Bravo sabe de antemão quem vai ou não encontrar em casa. Quem não está fica com o jornal na caixa do correio. As contas serão feitas depois.
Alguns dos compradores estão em casa. «Esta camarada é reformada», conta Manuel Bravo, no instante antes de tocar à campainha. Uma porta abre-se e surge um rosto idoso, mas cheio de vitalidade. «Não vieste ontem, não estava preparada para pagar o jornal», afirmou, olhando com alguma curiosidade a companhia invulgar. «Não faz mal, acertamos tudo para a semana», respondeu Manuel Bravo, esclarecendo: «São do Avante!. Estão cá a fazer uma reportagem sobre o nosso trabalho aqui em Moura».
De mão em mão
Muitos dos compradores do Avante! recebem o jornal no local de trabalho. E é Manuel Bravo quem o leva. Como na barbearia central da cidade, onde duas crianças esperavam a sua vez para a tosquia. «Então por onde andaste tu ontem?», perguntou o barbeiro, pegando em dois jornais, que paga de imediato. O segundo será entregue a outro leitor, que o irá levantar mais tarde.
O cliente seguinte é um carpinteiro de uma oficina de restauro. Às primeiras pancadas na porta ninguém abre. Manuel Bravo já se prepara para dobrar cuidadosamente o jornal de modo a caber na caixa do correio. Mas a porta acaba por abrir-se e o carpinteiro recebeu em mão o seu jornal. A caminho do centro, mais um número fica num mini-mercado.
No pólo central da Biblioteca Municipal, Manuel Bravo deixa a uma funcionária o Avante! que deveria ser entregue a outro trabalhador, que se encontra em serviço exterior. Visivelmente habituada àquela presença semanal, a funcionária acede e garante que o jornal chegará ao destinatário. Na divisão sócio-cultural, ficam alguns jornais, colocados em cima das secretárias dos respectivos leitores.
O mesmo se passa nos serviços centrais da autarquia. Com o presidente da Câmara de férias, o seu Avante! fica à guarda da secretária. Vereadores comunistas e outros militantes daquele departamento recebem o seu. Saindo por uma porta lateral, ainda se entrega mais um ao guarda do Castelo.
À saída, com o mesmo passo rápido, Manuel Bravo conta que a distribuição continuará da parte da tarde, em zonas mais periféricas da cidade. É que nos últimos anos vendem-se muitos mais Avantes no concelho, o que obriga a voltas maiores. Depois de a CDU ter perdido a maioria na Câmara, no início dos anos 90, a organização do Partido ressentiu-se disso. «Agora está-se a recuperar.»
Antes de partir para o resto da sua jornada, Manuel Bravo, que já foi vereador da Câmara Municipal, confessa: «De todas as tarefas que já fiz no Partido, é desta que gosto mais.»
O valor da persistência
Vender dez Avantes numa freguesia do Baixo Alentejo até poderia não ser um muito bom cartão de visita nem motivo merecedor de reportagem. Mas se se disser que há menos de um ano não se vendia nem um, as coisas mudam de figura.
Em Safara, no concelho de Moura, a organização do Partido não reagiu bem à derrota eleitoral nas últimas autárquicas para a freguesia. Para Jorge Flores, membro da Comissão Concelhia de Moura e responsável pela organização de freguesia de Safara , «descurava-se há muito tempo a organização do Partido». «Ao perder-se as eleições, tudo se foi desagregando», afirmou.
A sua responsabilização pela organização de Safara seguiu-se à realização da Assembleia da Organização Concelhia de Moura, em Maio de 2007. Jorge Flores conta que a sua primeira preocupação foi falar com as pessoas, chamá-las ao trabalho do Partido. Depois, trazer gente nova, o que se foi alcançando. «E assim se foi reconstruindo o Partido.»
Actualmente, existe uma Comissão de Freguesia com seis elementos. No recente almoço concelhio de comemoração dos 87 anos do Partido, realizado em Safara, estiveram 80 pessoas, 30 das quais da freguesia. No Avante! especial sobre as alterações ao Código do Trabalho venderam-se mais trinta jornais do que habitualmente.
Mas há muito ainda por fazer, considera este mecânico de automóveis, regressado de Angola há 11 anos, onde esteve outros tantos como cooperante. Em sua opinião, o que já se conseguiu prova que «se formos persistentes e se formos ter com as pessoas podemos ter cada vez mais gente a trabalhar».
Actualmente, é ele quem distribuiu o Avante! em Safara, mas está a tentar captar mais gente para a tarefa. «Não é só por uma questão de fundos, o Avante! é fundamental para aumentar a influência do Partido».
Criatividade em páginas de metal
Todas as semanas, às quintas-feiras, à porta do Centro de Trabalho de Moura está o Avante! «de parede». Numa estrutura metálica pintada de vermelho, colam-se as principais notícias e artigos da edição da semana. Em letras gordas amarelas, no topo da estrutura, lê-se «AVANTE!».
Coladas, as páginas centrais e outras peças. Neste caso, uma notícia sobre os cinco anos da Guerra do Iraque e um artigo de fundo sobre pensões e reformas. «Sempre que há notícias sobre Moura ou sobre o Alentejo, colamos logo», destaca Jorge Feliciano, membro do Organismo da Cidade de Moura e um dos responsáveis pela iniciativa.
Todas as quintas-feiras de manhã, Manuel Bravo entrega um Avante! a Jorge Feliciano destinado ao jornal de parede. Juntamente com Andreia Egas, os dois jovens seleccionam as matérias mais importantes e lançam as mãos ao trabalho, com a ajuda de tesouras e cola. Depois é só pôr a secar e colocá-lo à porta do Centro de Trabalho. Frequentemente, há que retocar o painel metálico, de modo a manter uma aparência digna.
José Gonçalo Valente, do mesmo organismo, sublinha que o vandalismo contra o jornal de parede do Partido é quase nulo. O que, para Jorge Feliciano, tem a ver com a regularidade com que é feito. «Foi ganhando o respeito das pessoas», afirma. «Fala-se muito dele ali na praça», diz, com indisfarçável satisfação.
Para além de divulgar o Avante!, este jornal de parede «passa a ideia de um Partido activo, com dinâmica, o que é muito positivo», acrescentou José Gonçalo, também presidente da Assembleia Municipal. Jorge Feliciano destaca igualmente a importância de dinamizar o Centro de Trabalho, que se mantém mais tempo aberto e animado. «Os militantes voltam a sentir “gozo” pelo CT», valoriza.
Segundo Jorge Feliciano, em pouco mais de meia-hora faz-se um jornal de parede com uma grande importância, até para os camaradas de concelhos vizinhos, para que possam seguir o exemplo.
O Organismo da Cidade foi recriado na Assembleia da Organização Concelhia de Moura, realizada no ano passado. Composto por militantes com idades a rondar os trinta anos, tem assumido um importante papel na dinamização do Centro de Trabalho, e na concepção, colocação e distribuição de propaganda.
José Gonçalo realça que esta nova dinâmica do Partido no concelho não se desliga das orientações nacionais. «Temos hoje mais militantes, mais actividade e vendemos mais Avantes», remata.